quinta-feira, 6 de novembro de 2003

Metamorfose

"Queria levantar com calma e sem ser perturbado, vestir-se e, sobretudo, tomar o café da manhã, e só aí pensar no que haveria de fazer, pois, isso ele percebia bem, na cama não chegaria a nenhuma solução razoável com suas reflexões. Recordou-se de ter sentido já em outras oportunidades alguma dorzinha leve, advinda talvez de uma posição desajeitada na cama, que depois, assim que ele se punha de pé, mostrava ser apenas imaginação; e estava curioso para ver como suas ilusões de hoje se dissipariam aos poucos depois que levantasse. Que a mudança na voz era apenas a imposição de um belo resfriado - a doença profissional dos viajantes -, ele tinha a mais absoluta das certezas.

Jogar a coberta para o lado foi bem simples; ele precisou apenas inspirar um pouco e ela caiu sozinha. Mas os passos seguintes se mostraram difíceis, sobretudo proque ele estava incomumente largo. Teria necessitado fazer uso dos braços e das pernas, a fim de se levantar; ao invés delas, no entanto, ele possuía apenas várias perninhas, que se movimentavam sem parar em todas as direções e que ele, além de tudo, não conseguia dominar."
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