domingo, 8 de maio de 2005

Esforço


Pensar dói. Sim, pensar doi.

Estamos vivendo a História mastigada. Somos acomodados, nos resignamos às perguntas óbvias e o branco da tela (ou da página) nos enche de pavor. As idéias tendem a se copiar, perpetuando-se a ponto de quase não haver inovação. E a ponto de nem se saber ao certo como inovar.

sábado, 26 de fevereiro de 2005

Pausa


Parem os relógios!
Deixem-me dormir em paz.
Esqueçam das minhas responsabilidades,
dos meus compromissos.
Não neguem meu sono a mim.
Atrasem os ponteiros,
quebrem os despertadores,
transcendam o tempo.
E me deixem descansar!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2005

Fuga


É quando eu começo a me ferir, e a ferir meus dedos cansados de digitar e a deixar meu ouvidos entupidos e a engasgar com um mar de lágrimas. É quando tenho vontade de rasgar o verbo e deformar as roupas e me largar em um sono profundo e esquecer de tudo. É quando quero me sentir livre – ao mesmo tempo em que vejo a prisão em que me encontro. Meus pulsos doem, meu corpo dói, minha mente já não respira. O nó na garganta não passa e palpita uma água salgada do canto dos meus olhos que não sei bem explicar por quê. A noite passou lenta, abafada, rasgante. Meu nariz não desentupiu e meus sonhos não vieram.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005

Devaneios...

Ainda estou lúcida. Mesmo em meio a tanta desordem, mesmo sem capacidade de raciocínio, mesmo sem conseguir pensar as palavras. Ainda estou lúcida. E preciso repetir isso infinitas vezes para me certificar de que estou certa, de que ainda tenho capacidade para pensar e ler jornais, de que consigo escrever sem que tenha de fazer um enorme esforço. Ainda estou lúcida. Bem menos do que gostaria, bem aquém do que seria necessário, bem além do suficiente. Mas ainda estou lúcida. Ainda vejo as cores ao meu redor (embora o cinza ganhe cada vez mais espaço), ainda tenho um vislumbre do futuro (apesar de meio embaçado), ainda consigo sonhar (embora quase não tenha tempo para isso). Meu sono anda cansado, meus olhos estão fundos, minha mente está uma desordem. Mas ainda estou lúcida. E assim preciso me manter. Preciso vencer a necessidade de descansar e de ter uma vida mais feliz. Ainda estou lúcida. Mas não sei por quanto tempo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Carrascos de nós mesmos

Com o tempo, a gente percebe que não adianta mais agir como criança e desejar como criança e sorrir como criança.

Com o tempo, a gente se vê só, mesmo no meio da multidão. E esquece as palavras. E esquece as pessoas. E deixa de lado os amigos, porque o trabalho se tornou mais urgente. E deixa de lado a gente mesmo, porque o descanso é mais importante do que o corpo. E deixa de lado os hobbies e as manias, porque dormir é mais importante. E esquece que o sexo é muito bom, porque a cabeça está sempre no dia seguinte.

Com o tempo, a gente deixa de acreditar em frases feitas e esquece que é preciso se esforçar para evoluir. A gente se esquece dos planos e das promessas feitas em cada início de ano. Dos sonhos e das juras de amizade sincera.

E quando menos esperamos, percebemos que estamos grandes, mas pequenos. Seres sem eira nem beira, sós na amplitude de um coração empedrecido.

Com o tempo, a gente se esquece das palavras da mãe e às vezes até mesmo da palavra MÃE. Deixa de lado o amor adormecido do pai.

Aos poucos, a gente percebe tudo isso, mas não há caminho de volta e tentar reconstruir pontes parece um tanto quanto complicado.

Ficamos, então, com as palavras anestesiadas, molengas e enfermas, guardadas no baú de preciosidades medíocres que é a nossa mente. Fica tudo ali, esperando a hora certa para explodir. Uma explosão carregada de culpa, uma espécie de testemunho vão.

Porque, na verdade, a gente já sabe de tudo isso. A gente sabe que a gente é mais importante e que a vida é feita de momentos preciosos. Mas ainda assim seguimos iguais.

Com o tempo, a gente percebe que precisa de espaço e que o conforto dos braços da mãe não é mais suficiente. E daí percebe que tudo o que realmente importa é justamente esse colo e esse carinho incondicional. Mas aí somos "adultos" e precisamos seguir em frente com os planos.

Aos poucos, a gente percebe que a individualidade é mais do que urgente, mas esquece que existem pessoas a quem querer bem. E vai acumulando todos esses déficits em algum lugar, prometendo um dia resolver tudo.

Mas a lista só vai aumentando. E o tempo só vai castigando.

Com o tempo, até o "eu te amo" precisa ser diferente para não ser banal. Ou então precisa ser dito, para arrebentar comportas fechadas há tanto tempo.

Aos poucos, a gente percebe que a vida é muito complicada, mas poderia ser infinitamente simples. Mas aí não sabemos mais como simplificá-la.