quarta-feira, 26 de novembro de 2003

(Re)começo

Começo é atravancado, difícil, pequeno.
Começo qualuqer,
Como uma criança engatinhando,
Ou um adulto em uma cidade estranha.
Começo de frase, de livro, de poema.
Começo é complicado.
Exige força, coragem, determinação.
O meio é mais simples.
Basta soltá-lo, deixar correr o barco.
Meio qualquer,
Como a idade adulta, a juventude e a meia idade.
O desenrolar da história.
Pleno, inteiro, mesmo sendo meio.
Complementa o início que já se foi
E o fim que está por vir.
O fim é uma conclusão,
Difícil de ser boa,
Carente de aceitação.
Um bom livro que chega ao final.
É a dúvida do porvir.
É curto, rápido.
Tem apenas três letras
E representa uma mudança imensa.
O fim é a conclusão.
O término do papel,
A falta de espaço na folha,
A morte da gente,
A morte do bicho,
A morte da água, da árvore, da flor.
Mas o fim é semente.
Uma idéia plantada
Para outros livros, outras vidas,
Outras flores.
É matéria para o chão,
É o berço do embrião,
É a volta ao começo

segunda-feira, 10 de novembro de 2003

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A perfeição beira a irracionalidade.
A ilusão de que algo pode ser perfeito, então, é idiotice.
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sexta-feira, 7 de novembro de 2003

De nomes e traduções

Não achei na enciclopédia meu nome. A palavra mais próxima talvez tenha sido Liliáceas . Seria uma família de Lilianes? Ou uma espécie de comportamento que acomete as pessoas? Será que alguém aldum dia sonharia em me dizer: "Ah, hoje você está muito liliácia! Sai prá lá!!!" Na verdade, a expressão nada mais é do que uma família de plantas monocotiledôneas da ordem das lilifloras, constituída por herbáceas cujos caules podem ser bulbos, rizomas, hastes ou trepadeiras. Compreende plantas ornamentais (lírio, tulipa, jacinto, agapanto, ornitogale), alimentares (aspargo, cebola, alho), têxteis (linho-da-nova-zelândia) e medicinais (cólquico), entre outras.

Um exemplo de liliácea:

quinta-feira, 6 de novembro de 2003

Metamorfose

"Queria levantar com calma e sem ser perturbado, vestir-se e, sobretudo, tomar o café da manhã, e só aí pensar no que haveria de fazer, pois, isso ele percebia bem, na cama não chegaria a nenhuma solução razoável com suas reflexões. Recordou-se de ter sentido já em outras oportunidades alguma dorzinha leve, advinda talvez de uma posição desajeitada na cama, que depois, assim que ele se punha de pé, mostrava ser apenas imaginação; e estava curioso para ver como suas ilusões de hoje se dissipariam aos poucos depois que levantasse. Que a mudança na voz era apenas a imposição de um belo resfriado - a doença profissional dos viajantes -, ele tinha a mais absoluta das certezas.

Jogar a coberta para o lado foi bem simples; ele precisou apenas inspirar um pouco e ela caiu sozinha. Mas os passos seguintes se mostraram difíceis, sobretudo proque ele estava incomumente largo. Teria necessitado fazer uso dos braços e das pernas, a fim de se levantar; ao invés delas, no entanto, ele possuía apenas várias perninhas, que se movimentavam sem parar em todas as direções e que ele, além de tudo, não conseguia dominar."
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terça-feira, 4 de novembro de 2003

Starry night


Noite sombria, eterna, majestosa. Noite que é escura, que é de lua, que é de furor. Instiga, aquece, excita. Morada de estrelas, cenário do prazer. Noite que é velada, calada, molhada. Noite de chuva, noite de seca. Noite do acaso, noite do meu caso, noite do descaso. Noite do meu dia, meio-dia. Noite da minha tarde, pôr-do-sol. Meio-dia da minha noite, meia-noite. Noite da minha noite, madrugada.