segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Aprisionado

O rabisco começou naquela noite, sob um céu crivado de estrelas, iluminado diabolicamente por uma lua cheia amarela. Pairou no purgatório por um instante e logo ganhou forma no pensamento. Anos a fio permaneceu como um breve rascunho na mente daquela outrora jovem sonhadora e ainda hoje reina entre as obras-primas do ineditismo improvável e inconcreto. Inexato. Inestimado. Inesgotável. Talvez faça companhia a comédias dantescas ou ensaios maquiavélicos, talvez siga diretrizes machadianas ou se perca nas brumas pós-românticas. Talvez esteja esgotado entre obras medíocres e enfadonhas - e, neste caso, está muito melhor guardado no pensamento do que sob os crivos de quem o observe.

Mas, liberto das dúvidas e preconceitos que sempre o perseguiram, escolheu aquele céu estrelado para escapar. Então seguiu livre, absorto e sereno, em busca daquilo que talvez nunca alcance. Sem rumo, sem prazo, sem descanso, perseguiu a mente preguiçosa e insistiu em ser delineado. Nada. Ganhou forma somente na imaginação, tecendo suas teias infinitas de planos pouco plausíveis em um breve segundo que pareceu uma eternidade. Esperançoso, ainda aguarda por um recomeço e acredita na promessa de mudança. Mas as pessoas dificilmente mudam, porque raramente o querem de fato. Nada sensata essa crença.

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