segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Carrascos de nós mesmos

Com o tempo, a gente percebe que não adianta mais agir como criança e desejar como criança e sorrir como criança.

Com o tempo, a gente se vê só, mesmo no meio da multidão. E esquece as palavras. E esquece as pessoas. E deixa de lado os amigos, porque o trabalho se tornou mais urgente. E deixa de lado a gente mesmo, porque o descanso é mais importante do que o corpo. E deixa de lado os hobbies e as manias, porque dormir é mais importante. E esquece que o sexo é muito bom, porque a cabeça está sempre no dia seguinte.

Com o tempo, a gente deixa de acreditar em frases feitas e esquece que é preciso se esforçar para evoluir. A gente se esquece dos planos e das promessas feitas em cada início de ano. Dos sonhos e das juras de amizade sincera.

E quando menos esperamos, percebemos que estamos grandes, mas pequenos. Seres sem eira nem beira, sós na amplitude de um coração empedrecido.

Com o tempo, a gente se esquece das palavras da mãe e às vezes até mesmo da palavra MÃE. Deixa de lado o amor adormecido do pai.

Aos poucos, a gente percebe tudo isso, mas não há caminho de volta e tentar reconstruir pontes parece um tanto quanto complicado.

Ficamos, então, com as palavras anestesiadas, molengas e enfermas, guardadas no baú de preciosidades medíocres que é a nossa mente. Fica tudo ali, esperando a hora certa para explodir. Uma explosão carregada de culpa, uma espécie de testemunho vão.

Porque, na verdade, a gente já sabe de tudo isso. A gente sabe que a gente é mais importante e que a vida é feita de momentos preciosos. Mas ainda assim seguimos iguais.

Com o tempo, a gente percebe que precisa de espaço e que o conforto dos braços da mãe não é mais suficiente. E daí percebe que tudo o que realmente importa é justamente esse colo e esse carinho incondicional. Mas aí somos "adultos" e precisamos seguir em frente com os planos.

Aos poucos, a gente percebe que a individualidade é mais do que urgente, mas esquece que existem pessoas a quem querer bem. E vai acumulando todos esses déficits em algum lugar, prometendo um dia resolver tudo.

Mas a lista só vai aumentando. E o tempo só vai castigando.

Com o tempo, até o "eu te amo" precisa ser diferente para não ser banal. Ou então precisa ser dito, para arrebentar comportas fechadas há tanto tempo.

Aos poucos, a gente percebe que a vida é muito complicada, mas poderia ser infinitamente simples. Mas aí não sabemos mais como simplificá-la.

Um comentário:

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