sexta-feira, 31 de outubro de 2003

O pássaro e a asa quebrada

Minha poesia já não é mais a mesma. Meus dedos, ágeis e vorazes, já não lembram a doçura da criança. Minhas mãos já não denotam ingenuidade. São firmes, tenazes, determinadas. Quase tanto quanto gostaria que fossem. Já não tremem mais, já não se escondem ou se enervam. Sabem o que querem.

Minha poesia se perdeu nos anos que a maturidade trouxe. Minhas palavras já não expressam mais a insegurança ou o eterno universo enfadonho de adolescente. Reclamações e desesperanças me irritam. Quero mais do que simplesmente ser um ser ao relento, desenganado com a solidão ou então inerte e à mercê das desilusões. Sou - ao menos tento ser - forte. Sou - ao mesmo tempo - frágil. Um eterno paradoxo, como linhas paralelas que nunca se cruzam mas fazem parte de um mesmo traçado. Sou, como costumo dizer, o exemplo perfeito de um ser humano, com contradições encerradas em mim mesmo ao mesmo tempo em que a coesão me torna adulta. Meu lado criança não é tolo. Meu lado criança é apenas brincalhão, longe das ingenuidades ou da inocência que muitos guardam. Bom? Ruim? Perguntas nem sempre encerram respostas satisfatórias. Ou nem mesmo têm verdadeiras soluções. Tal como as demais coisas do universo, eu sou. Apenas sou. E mais do que qualquer coisa, esse apenas significa muito. Significa que tenho vida, que tenho amor, que tenho medo, que tenho tudo. Que tenho nada, que tenho sorte, que tenho alma, que tenho vida.

Vou vivê-la.

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